A NOÇÃO DE TEMPO

     Na Física Clássica, a concepção adotada acerca do tempo foi, implicitamente, a de Isaac Newton (1642-1727), segundo a qual o tempo é algo que existe por si só, independente de qualquer outra coisa, ou seja, ele é "absoluto, verdadeiro e matemático, por sua própria natureza, sem relação a nada externo, permanece semelhante e imutável ... O tempo, como o espaço, é absoluto e existe independentemente dos eventos que nele ocorrem" (assim se expressou o próprio Newton em sua obra Philosophiae Naturalis Principia Mathemática, ou "Princípios matemáticos de filosofia natural", mais conhecida, simplesmente, como Principia, e publicada em 1687). As concepções de Newton em relação ao tempo vigoraram durante muito tempo e, ainda hoje, a maioria das pessoas diria que o tempo é absoluto e não depende de mais nada.

     Einstein não se preocupou tanto em saber o que o tempo é, mas principalmente em definir como medi-lo de maneira precisa e objetiva, ou seja, de maneira que o resultado da medição seja independente de quem a realiza ou do método adotado na medição. Para ele, o tempo é, simplesmente, aquilo que um relógio (preciso) marca. Não importa a maneira segundo a qual o relógio escolhido funciona, nem o tipo do relógio (se é digital, de pêndulo, etc), pois o tempo indicado por ele será o tempo verdadeiro ou físico, bastando para isso, que o relógio usado seja preciso. O físico inglês Stephen Hawking, em sua obra recente "O Universo numa Casca de Noz" (editora Mandarim, 2001), explicou a filosofia que norteia a maior parte dos cientistas em seu trabalho da seguinte maneira, e que é muito parecida com a adotada por Einstein: "... uma teoria científica é um modelo matemático que descreve e codifica as observações que fazemos. Uma boa teoria descreverá uma vasta série de fenômenos com base em uns poucos postulados simples e fará previsões claras que podem ser testadas. Se as previsões concordam com as observações, a teoria sobrevive àquele teste, embora nunca se possa provar que ela esteja correta. Por outro lado, se as observações discordam das previsões, é preciso descartar ou modificar a teoria". Portanto, quem adota um ponto de vista como este, continua Hawking, "não consegue dizer o que o tempo realmente é. Tudo que pode fazer é descrever o que se revelou um ótimo modelo matemático para o tempo e dizer quais as suas previsões".

     Para medir o tempo de uma maneira precisa e objetiva (que poderíamos chamar de científica), precisamos de um cronômetro que funcione corretamente. Um cronômetro preciso é sempre construído com base em algum fenômeno físico que seja periódico e cujo período seja constante ao longo de todas as repetições. O período do fenômeno envolvido no funcionamento do relógio será sua unidade de tempo. Ou seja, qualquer medição de tempo realizada com o cronômetro será igual a um múltiplo inteiro desta unidade de tempo.

     Quando procuramos entender a natureza do tempo assim como Einstein o imaginava, é preciso, antes de qualquer coisa, nos despirmos dos conceitos já adquiridos - como o de aceitar que o tempo seja absoluto - e, ao mesmo tempo, aceitarmos que o espaço e o tempo estão relacionados, de modo que as distâncias e as durações dos acontecimentos dependam do movimento do observador que os registra - muito embora todos nós tenhamos a impressão de que o tempo funciona como se fosse uma espécie de "rio" que corre sempre no mesmo sentido e com a mesma velocidade, um "rio ondulante que carrega nossos sonhos", como escreveu, poeticamente, Stephen Hawking na obra citada acima. Para Einstein, não existe o tempo absoluto e, como veremos, as medições de um intervalos de tempo realizadas por diferentes observadores em movimento relativo podem diferir entre si, dependendo do estado de movimento do observador e do referencial adotado. Como veremos, esta é uma conclusão lógica e inevitável quando se aceita como válido o Postulado da Invariância da velocidade da luz no vácuo, enunciado por Einstein em 1905.

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